Povo ucraniano queria democracia, mas recebeu um criado dos EUA
Como a votação decorreu sob o “olhar atento” dos
nacionalistas, muitos analistas políticos ucranianos duvidam que
Poroshenko possa ter vencido com tanta facilidade logo no primeiro
turno. Analistas independentes afirmam que os resultados das eleições
foram fraudulentos porque Poroshenko era o homem dos EUA e da União
Europeia e também porque o país empobrecido não aguentaria mais um turno
de eleições.
Em vez de democracia, do fim do poder dos
oligarcas e da corrupção, a Ucrânia recebeu para ocupar a cadeira
presidencial não um simples oligarca, mas um oligarca que foi ministro
em quase todas as administrações presidenciais desde o ano 2000. Piotr
Poroshenko, além disso, deixou atrás de si um rasto de acusações de
corrupção, incluindo suspeitas de ter eliminado opositores. Como disse
acertadamente um jornal francês, foi quase o mesmo que se, na França
revolucionária depois da tomada da Bastilha e da execução do rei,
tivesse subido ao poder o seu sobrinho.
A primeira coisa
que Poroshenko fez, ainda antes da tomada de posse, foi viajar até à
Polônia, onde se encontrou com o presidente dos EUA Barack Obama a 4 de
junho. Apesar de ele ter prometido que a primeira coisa a fazer seria
viajar para as regiões rebeldes de Donetsk e de Lugansk para regularizar
a grave crise.
Segundo declarou a deputada da Rada
Suprema pelo partido das Regiões Elena Bondarenko, “apenas isso já
revela quem comanda Poroshenko”. Washington foi o principal organizador
do golpe de Estado violento em Kiev a 22 de fevereiro, e a delegação
norte-americana, chefiada pelo vice-presidente Joe Biden, será nas
cerimônias a mais representativa.
Seja como for,
Poroshenko foi eleito, foi reconhecido pelo Ocidente e pela União
Europeia e, sobretudo, a Rússia terá de lidar com ele. Não é uma tarefa
fácil.
O presidente russo, Vladimir Putin, já tinha
declarado que Poroshenko “pode se encontrar sob influência de quem quer
que seja”, mas que o principal é que ele acabe com as operações
punitivas no Leste do país contra seu próprio povo e se sente à mesa das
negociações com os representantes de Donetsk e de Lugansk. A Rússia
gostaria que a Ucrânia fosse realmente soberana, disse Vladimir Putin
numa entrevista ao canal francês TF1.
Tendo em conta a
grande atividade diplomática à margem das celebrações de 6 de junho na
Normandia, aumentam as esperanças de uma regulação da situação na
Ucrânia. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov,
por exemplo, se encontrou em Paris, um dia antes da tomada de posse, com
o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e disse que os EUA e a
Rússia estão convictos que se deve acabar com a violência de ambos os
lados e que esse confronto não pode durar eternamente.
Como
irá agir Piotr Poroshenko, o que irá ele fazer concretamente e estará
ele está realmente em condições de dirigir a Ucrânia sozinho – é a
grande questão. Ele foi eleito ainda antes da reforma da constituição
que limita substancialmente seus poderes. Na Rada Suprema ele não tem
qualquer apoio de peso. O partido Batkivschina de Yulia Tymoshenko já se
encontra em oposição não-declarada ao presidente. Não está claro quais
serão os resultados das futuras eleições de setembro para o parlamento.
O
próprio Piotr Poroshenko, porém, já demonstrou ao longo da sua carreira
empresarial e política verdadeiros milagres de mimetismo político. Eles
ajudaram-no a subir sustentadamente atá ao topo do poder, enquanto seus
aliados e adversários caiam uns após outros. Poroshenko trocava de
roupagem política com tanta facilidade que era difícil definir sua
orientação política em qualquer momento em particular.
O
lado empresarial da sua vida também é bastante nebuloso. O seu “reino
do chocolate”, a companhia Roshen, é apenas a ponta do iceberg. Na
realidade a força principal de Poroshenko é o consórcio Ukrinvest.
Através dele, Poroshenko controla empresas de construção naval, de
reparação e comercialização automóvel, de metalomecânicas, químicas,
agrícolas e muitas outras. A revista Forbes de junho de 2014 coloca-o no
6º lugar da lista dos oligarcas mais ricos da Ucrânia com uma fortuna
avaliada em cerca de 1,7 bilhões de dólares.
Só que o
problema reside na impossibilidade, segundo os economistas ucranianos,
de alguém poder calcular a fortuna exata de Poroshenko: é enorme a
quantidade de médias, pequenas e pequeníssimas empresas e atividades que
fazem parte da sua estrutura empresarial.
Há poucos
dias se soube que o recém-eleito presidente da Ucrânia e bilionário
Piotr Poroshenko vai adquirir a Fábrica de Artigos Experimentais de
Kiev, apesar de suas promessas de vender todos seus ativos em caso de
vencer as eleições. Assim, a verdadeira história do presidente-oligarca
está apenas começando.
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