OTAN empurra Escócia para a independência
Lord Robertson exortou os EUA a lutar ativamente contra
o referendo da independência da Escócia, marcado para o dia 18 de
setembro.
A viagem de Robertson aos EUA é muito
sintomática. Depois dos acontecimentos na Crimeia e na Ucrânia e do
apoio prestado por Washington ao gabinete neonazista, criado pelo
chamado movimento pró-europeu Euromaidan em Kiev, o campo de adversários
da autodeterminação acusa uma tendência evidente de ficar o mais perto
possível da Casa Branca.
Lord Robertson, que, falando a
propósito, é escocês e foi outrora ministro da Defesa da Grã-Bretanha,
esteve à frente da OTAN no período de 1999 a 2003. Um político escocês
disse certa vez que “a pessoa que esteve uma vez à testa da OTAN sofre
uma modificação genética para todo o resto da vida”.
As
declarações do britânico provocaram uma reação imediata dos irascíveis
celtas. O vice-premiê da Escócia, Nicola Sturgeon, referiu a sua
declaração como “insultuosa” e “chocante”. Os pronunciamentos de lord
Robertson não nos surpreendem absolutamente, diz Nicola Sturgeon. Ele
sempre foi um dos adversários mais belicosos e furiosos da independência
da Escócia:
"Façam o favor de ouvir o que ele disse: "A
independência será um cataclismo para a Escócia"; "vai ajudar certas
forças do mal"; vai agravar "a instabilidade do mundo ocidental". Tudo
isso ultrapassa na íntegra os limites do bom senso e de debates
racionais. Creio que muita gente, seja ela a favor ou contra a
independência, vai considerar esta declaração insultuosa”.
Robertson
deixou a política e empenhou-se no negócio de petróleo, ligado aos
americanos. A julgar pelas declarações do antigo secretário-geral da
OTAN, os EUA estão muito descontentes com a intenção da Escócia de
“empreender uma navegação autônoma”. Robertson chegou a declarar que
Washington deveria manifestar de uma forma mais ativa a sua posição. Mas
agora isso não é muito cômodo. No presente momento, a Casa Branca está
empenhada em tentativas de anular a independência numa outra parte do
mundo, na Crimeia, onde mais de 90% dos habitantes votaram a favor da
separação da Ucrânia e de integração na Rússia. Um “ataque” contra a
independência da Escócia iria desacreditar a sua posição
definitivamente.
No verão passado, a direção da OTAN já
realizou, cedendo a exigências insistentes dos EUA, um encontro com os
líderes do Partido Nacional da Escócia em Bruxelas. Os governantes
escoceses souberam que, no caso da separação, a Escócia terá que sair da
OTAN, perderá a proteção do “guarda-chuva nuclear” da OTAN e por pouco
não ficará indefesa perante a “agressiva Moscou”.
A OTAN
e os EUA estão preocupados mais de tudo com as tendências antinucleares
na Escócia. A base de Faslein, situada na Escócia, é o local de
estacionamento de submarinos atômicos da Grã-Bretanha, munidos de
mísseis Trident. É o fundamento das forças de contenção nuclear da
Grã-Bretanha. Caso os celtas proclamem a independência, Londres terá que
retirar estes submarinos.
Na Escócia não existem bases
da OTAN. O primeiro-ministro e líder do Partido Nacional da Escócia,
Alex Salmond, já declarou que Edimburgo gostaria, caso a Escócia se
separe, de continuar na OTAN mas na qualidade de país desnuclearizado,
da mesma maneira que mais 26 membros deste bloco. "Não vemos nada de mal
nisso", diz Alex Salmond:
“Para nós, a oposição em
relação às armas nucleares não é uma posição adotada no processo de
discussão da questão de separação da Grã-Bretanha. Não é uma parte da
nossa tática com vista a extorquir algo. A oposição às armas atômicas é
algo em que cremos e é a razão que nos faz lutar para transformar a
Escócia em um país independente”.
Por incrível que
pareça, as declarações de Robertson e outras semelhantes, assim como as
críticas ao referendo por parte de Londres, têm surtido o efeito oposto,
isto é, resultam no crescimento dos partidários da independência. Antes
do ano novo, os adeptos da independência eram 20-25% do eleitorado mas
agora a percentagem dos que querem o “divórcio” de Londres chega a
40-42%. De 43 a 46% do eleitorado está contra a independência.
A
corrida aproxima-se da linha de imprevisibilidade total dos resultados,
perigosa para Londres. Os escoceses que integram o Partido Nacional da
Escócia afirmam que talvez vençam precisamente graças à histeria da
OTAN.
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