Parece que a única maneira de sair desta profunda crise
política e ideológica, quando formalmente num mesmo território existem
duas Ucrânias, é a sua federalização.
A região de
Ivano-Frankovsk tornou-se uma espécie de símbolo daquela Ucrânia que
está orientada para o Ocidente e está disposta contra a Rússia. Claro,
não se trata de toda a população da região mas de sua parte
politicamente ativa que é, de fato, quem tem mais influência. A
orientação política, cultural e histórica da região de Ivano-Frankovsk,
que juntamente com as regiões de Lviv e Ternopol eram conhecidas como
Galícia, é devida a uma série de eventos-chave. Primeiro de tudo – à
longa permanência (desde o século XIV) desta região na Polônia e Império
Austro-húngaro.
Este território só passou a fazer parte
da República Soviética da Ucrânia apenas na virada das décadas de
1930-1940, e não se pode dizer que o processo tenha corrido sem
problemas, tendo em conta a invasão iminente da União Soviética pelas
forças de Hitler. Basta recordar o simples fato da criação entre os
habitantes locais da divisão Galizien da SS.
É curioso
que, tendo sentimentos claramente antirrussos, muitos habitantes da
região de Ivano-Frankovsk não sentem simpatia para com os polacos,
alemães e austríacos que participaram no destino de sua pátria. Muitas
vezes até os odeiam, construindo sua base ideológica sobre um ódio total
a forças externas e sobre sua exclusividade, misturada, além de tudo,
com antissemitismo. O deputado da Suprema Rada (parlamento) da Ucrânia
Alexander Golub notou as grandes diferenças entre a Ucrânia ocidental e
oriental:
“Há uma grande diferença na compreensão
cultural e religiosa, na experiência histórica. Durante um tempo
bastante longo as regiões ocidentais estiveram sob a influência de
certos países – Áustria, Alemanha, Polônia. Durante esse período, as
pessoas que vivem lá eram educadas no ódio a tudo que tem a ver com a
Rússia ou a União Soviética: à língua, à cultura e à fé. Não é por acaso
que foram nessas regiões que surgiram os uniatas – representantes da
Igreja Greco-Católica Ucraniana, que obrigaram os habitantes do Oeste do
país a abandonar a Ortodoxia.”
O analista político
Dmitri Abzalov está convencido de que as regiões ucranianas apenas podem
ficar juntas se receberem amplos poderes dentro de um Estado unitário e
respeito pelos direitos de todos os cidadãos:
“A
federalização permitirá preservar os interesses das regiões e
territórios e proporcionar uma oportunidade para a atividade política
das elites regionais. Isso, por sua vez, garantiria a preservação de sua
independência. Na maioria dos casos, tais medidas são suficientes para
resolver todos os problemas. Lembre-se da unificação da Alemanha. As
federações são estruturas estáveis se, é claro, as autoridades
conseguirem criar ferramentas de representação das regiões.”
Por
enquanto, uma estrutura federal para a Ucrânia é uma grande questão em
aberto. Ela existe como um projeto proposto por forças construtivas no
país e no exterior, interessadas em paz e acordo comum. Mas as
autoridades autoproclamadas em Kiev não estão dispostas a realizar uma
reforma política e pública tanto radical, como extremamente necessária.
Ora o confronto entre o sudeste e oeste do país vai crescer. Os últimos
dias, infelizmente, confirmam a realização justamente desse cenário.
A
parte nacionalista da população da Galícia é pouco susceptível de
concordar com que seus heróis – Bandera e Shukhevich – tivessem sido
criminosos e torturadores, inclusive do povo ucraniano. E não importa
que é justamente com essas definições que concordam muitos ucranianos,
judeus e poloneses que vivem em Ivano-Frankovsk e arredores. Hoje a
vontade é ditada por pessoas armadas.
Assim, com o
consentimento tácito de Kiev, defendendo e impondo seus próprios ideais,
se assim se pode dizer, os neofascistas podem conseguir que a Ucrânia
deixará de existir em suas fronteiras atuais. O sudeste do país nunca
aceitará a visão da Ucrânia ocidental da história, do presente e do
futuro do Estado sob as bandeiras de Bandera. O outro caminho – o
federativo – pode reconciliar os atuais adversários ideológicos. Claro
que, numa base mutuamente aceitável.
Por enquanto, a
federalização da Ucrânia é uma grande questão em aberto. Ela existe como
projeto proposto por forças construtivas no país e no exterior,
interessadas na paz e concórdia. Mas as autoridades autoproclamadas em
Kiev não estão dispostas a realizar uma reforma políticaque é ao mesmo
tempo radical e extremamente necessária. Ora o confronto entre o Sudeste
e Oeste do país vai crescer. Os últimos dias, infelizmente, confirmam a
realização justamente desse cenário.
A parte
nacionalista da população da Galícia é pouco susceptível de concordar
que seus heróis – Bandera e Shukhevich – tivessem sido criminosos e
torturadores, inclusive do povo ucraniano. E não importa que seja
justamente com essas definições que concordam muitos ucranianos, judeus e
poloneses que vivem em Ivano-Frankovsk e arredores. Hoje a vontade é
ditada por pessoas armadas.
Assim, com o consentimento
tácito de Kiev, defendendo e impondo seus próprios ideais, se assim se
pode dizer, os neofascistas podem conseguir que a Ucrânia deixe de
existir em suas fronteiras atuais. O Sudeste do país nunca aceitará a
visão da Ucrânia ocidental da história, do presente e do futuro do país
sob as bandeiras de Bandera. O outro caminho – o federativo – pode
reconciliar os atuais adversários ideológicos. Claro que, numa base
mutuamente aceitável.
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