Ucrânia considera “inaceitáveis” condições da Rússia para um acordo
Em vez de um documento completo que permita pôr fim ao conflito,
pode sair de Minsk apenas uma declaração conjunta. FMI anuncia acordo
para um novo empréstimo a Kiev.
O Presidente ucraniano, Petro Poroshenko,
considera que algumas das condições colocadas pela Rússia nas
negociações que decorrem em Minsk são “inaceitáveis”, mas admite que “há
esperança” de uma declaração final que aponte para algum tipo de
resolução da guerra que prossegue no Leste da Ucrânia.
“Infelizmente ainda não boas notícias”, disse o
chefe de Estado ucraniano à AFP durante uma pausa nas negociações. A
maratona negocial que juntou Poroshenko ao Presidente russo, Vladimir
Putin, e que foi promovida pelos líderes da França, François Hollande, e
da Alemanha, Angela Merkel, presentes na capital da Bielorrúsia,
prolongou-se por 12 horas na quarta-feira, entrou pela madrugada e já
recomeçou esta quinta-feira de manhã.
“Há condições que eu
considero inaceitáveis”, disse ainda Poroshenko, explicando não saber se
um acordo chegará a ser assinado. De acordo com a agência de notícias
russa RIA, Kiev não aceita nem a linha de demarcação no Leste proposta
por Moscovo nem o estatuto pretendido por Putin para as regiões sob
controlo dos rebeldes.
Por outro lado, os separatistas pró-russos
estarão a exigir a retirada do Exército ucraniano em Debaltseve, um nó
ferroviário a nordeste de Donetsk que permitiria ligar esta cidade a
Lugansk, o seu outro grande bastião.
“Angela Merkel e o Presidente
François Hollande ajudam-nos muito”, mas “a situação é muito difícil",
explicou o Presidente ucraniano. Segundo a agência de notícias francesa,
os quatro dirigentes passaram parte da noite em branco a negociar ponto
a ponto o documento que visa pôr fim a dez meses de guerra que já
fizeram mais de 5300 mortos nesta ex-república soviética.
Um
responsável diplomático citado igualmente pela AFP admite que seja
assinado um acordo pelo Grupo de Contacto, que reúne representantes
russos, ucranianos e da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação
na Europa), reunido desde terça-feira em paralelo na mesma cidade. Aqui
chegou a falar-se da assinatura de um cessar-fogo imediato, mas os
líderes separatistas continuam a recusar assinar qualquer acordo.
Este
texto incluiria “a concretização do acordo de Minsk de 5 de Setembro”,
um protocolo de cessar-fogo desenvolvido nos dias seguintes onde se
reconhecia a integridade territorial da Ucrânia, se pedia mais autonomia
para o território controlado pelos separatistas pró-russos e se
estabelecia uma zona desmilitarizada — é o único documento para tentar
resolver o conflito assinado até agora por todas as partes, mas nunca
foi cumprido.
A Reuters teve acesso a um documento que discutia um
cessar-fogo com início no sábado, dia 15, a retirada de todas as armas
pesadas, a criação de uma zona de segurança e o retorno do controlo
total da fronteira às autoridades ucranianas até ao fim do ano, assim
como a retirada das tropas estrangeiras. Mas a agência não sabe se era
apenas um esboço para discussão ou algo mais próximo de um acordo final.
Apesar
das expectativas levantadas com o envolvimento do Presidente Hollande e
da chanceler Merkel, a cimeira de Minsk pode acabar com uma declaração
conjunta — em vez de um acordo total — que seja assinada apenas pelos
enviados presentes na reunião do Grupo de Contacto e não pelos próprios
líderes.
Enquanto decorre a negociação de Minsk, Kiev esperava um
acordo com o Fundo Monetário Internacional sobre um novo empréstimo: a
directora do FMI, Christine Lagarde, acaba de anunciar que foi proposto à Ucrânia um novo empréstimo de 15,5 mil milhões de euros a quatro anos em troca de reformas.
Numa
conferência de imprensa em Bruxelas, Lagarde diz que este acordo ainda
tem de ser aprovado pelo conselho de administração do FMI, o que deverá
acontecer “antes do fim de Fevereiro”.
No terreno, dois soldados
ucranianos foram mortos no Leste do país, enquanto sete civis foram
mortos e 14 ficaram feridos na capital separatista, Donetsk, dizem as
autoridades locais.
http://www.publico.pt
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