30 de maio de 2020

EUA em colapso

Economia dos EUA está em queda livre e crise é inevitável, advertem especialistas


Corretores passam pela Bolsa de Nova Iorque no dia em que o edifício abre pela primeira vez desde março, enquanto o surto de COVID19 continua grassando no bairro de Manhattan, Nova Iorque, EUA, 26 de maio de 2020As empresas norte-americanas registraram uma queda recorde nos lucros no primeiro trimestre. Os números caíram para valores próximos dos da crise de 2009.
A situação é crítica: o mercado acionário tem uma bolha pior que a da crise da Internet de 2000, alertou uma das principais empresas de investimento. Os analistas estão esperando uma onda de falências e colapso do mercado acionário.

Inadimplência e falências iminentes

No primeiro trimestre de 2020, os lucros operacionais das empresas do S&P 500 (índice bolsista composto a partir da capitalização das 500 maiores empresas norte-americanas) em termos anuais caíram US$ 661 bilhões (R$ 3.527 bilhões), uma redução de cerca de 50% em comparação com o quarto trimestre de 2019.
"Este é o pior registro desde a crise de 2009", afirmou Joseph Carson, economista-chefe da Alliance Berstein Investment Company.
Muito se perdeu por causa da guerra comercial com a China. Embora Washington e Pequim tenham assinado a primeira fase do acordo em 15 de janeiro, as taxas sobre produtos no valor de centenas de bilhões de dólares ainda estão em vigor, tendo as relações entre os dois países se deteriorado novamente.
As empresas americanas têm incorrido em sérias despesas, tanto mais que os produtos chineses são bem mais baratos.
De acordo com um relatório do escritório de Nova York da Reserva Federal (FED, na sigla em inglês) e da Universidade da Colúmbia, a guerra comercial entre os dois países reduziu o valor de mercado das empresas norte-americanas em US$ 1,7 trilhões (R$ 9,1 trilhões).
No segundo trimestre, o desempenho financeiro continuará seguramente a deteriorar-se devido às repetidas quedas nas vendas e na produção em meio à pandemia do novo coronavírus.
Trader no salão da bolsa de valores de Wall Street observa variações nos preços das ações.
© AP PHOTO / MARK LENNIHAN
Trader no salão da bolsa de valores de Wall Street observa variações nos preços das ações
De acordo com a previsão do FED, o PIB em termos anuais cairá mais de 40 por cento. Isso significa que mais inadimplências e falências serão inevitáveis.
"Se a queda nos lucros operacionais das empresas do S&P 500 em dólares no segundo trimestre ficar ao mesmo nível do primeiro, então em termos anuais a queda já será de US$ 1,3 trilhão (R$ 6,9 trilhões)", adverte Joseph Carson.
"Assim, até o final de junho, a relação preço/rendimento das ações do índice S&P 500 superará os níveis extremamente altos da bolha do ano 2000", previu o especialista.
Em caso de aprofundamento da crise motivada pela COVID-19 e de queda acentuada da atividade empresarial, as empresas do S&P 500 conhecerão o pior trimestre da última década em termos de lucro, preveem os estrategistas do maior banco de investimentos, o JP Morgan.

FED não consegue resolver

As esperanças depositadas nas políticas de estímulo do FED e na liquidez que o regulador injetou no mercado, para melhorar a situação financeira das empresas e sua solvência, esfumaram-se.
Assim que os investidores perceberem a amplitude da queda do lucro corporativo, outro colapso se iniciará no mercado de ações, creem os especialistas.
Painel com dados financeiros da Bolsa de Valores de Nova York (foto de arquivo)
© AFP 2020 / SPENCER PLATT / GETTY IMAGES
Painel com dados financeiros da Bolsa de Valores de Nova York (foto de arquivo)
Na semana passada, o gestor de fortunas Stanley Druckenmiller, que administra o fundo de George Soros, afirmou que a atual relação risco/rendimento no mercado de ações é a pior de toda a sua carreira.
"Parece que o consenso do mercado é o seguinte: "Não se preocupem, o FED vai nos salvar. Mas, pelas nossas análises, o mercado está errado", advertiu Druckenmiller, acrescentando que – na sua previsão - o programa de estímulo massivo lançado pelo FED vai limitar ainda mais o crescimento econômico.

Bilionários se preparam para o pior

A política do FED "é apenas um conjunto de pagamentos e transferências que permitiu que as pessoas recebessem mais dinheiro sem trabalhar", salientou Druckenmiller, para quem muito desse dinheiro foi parar a empresas zumbis.
As empresas zumbi não geram lucros, elas vivem de dívidas. O crescimento de seu número foi facilitado por um longo período de taxas de juros baixas. Os economistas têm dito repetidamente que a abundância de "mortos-vivos" cria uma ameaça real de uma nova crise em larga escala.
Os bilionários americanos estão se preparando para o pior. Assim, o fundo de investimento Warren Buffett's Berkshire Hathaway reduziu drasticamente sua participação em um dos maiores bancos do mundo, o Goldman Sachs, ao vender 84% de suas ações.
O fundador do fundo de investimento Appaloosa Management, David Tepper, disse que apenas uma vez na história os preços das ações das empresas norte-americanas estiveram mais sobrevalorizados do que agora - em 1999 – precisamente em vésperas da famosa crise da Internet que colapsou os mercados.

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