Argentina está 'quebrada e doente', diz Cristina Kirchner após calote
Midiamax
No
primeiro pronunciamento após o fim do prazo para o pagamento da dívida
renegociada, que coloca o país em situação de calote – ainda que
seletivo –, a presidente argentina Cristina Kirchner disse que a vida
segue, mas também afirmou que o país está "quebrado e doente".
"É
hora de o mundo colocar freios nos fundos abutres e nos bancos
insaciáveis que querem seguir lucrando com uma Argentina quebrada e
doente", disse Kirchner.
A
presidente começou o discurso com ironia em relação às consequencias
para o país com a falta de pagamento. "Estamos em 31 de julho e a vida
segue andando, o que não deixa de ser uma boa notícia", disse, se
referindo implicitamente ao calote.
Durante
o discurso sobre a moratória, a presidente ainda repetiu: "Não nos
coloquem como na década passa, dizendo que se não fizermos isso (pagar a
dívida), virá o caos".
A
Argentina está em calote seletivo e técnico, já que não conseguiu fazer
o pagamento de credores que renegociaram a dívida dentro do prazo, que
era a quarta-feira (30). A quitação da parcela está bloqueada pela
Justiça porque a sentença determinou que o país precisa primeiro pagar
os fundos, para só então poder quitar as demais dívidas.
A
presidente argentina disse que "se pagar mais (aos fundos), seria com a
fome do povo argentino". "Eu não endividei a Argentina, nem vocês. Os
que endividaram é que continuam dizendo que temos de assinar qualquer
acordo."
Cirstina
Kirchner também repetiu que considera a palavra calote errada para o
caso e que outra palavra terá de ser inventada, já que o dinheiro está
depositado e foi bloqueado pela Justiça. "A Argentina vai usar todas as
medidas judiciais possíveis", disse.
Mais
cedo nesta quinta-feira, o ministro argentino da economia, Axel
Kicillof, também disse que "é uma bobagem atômica dizer que entramos em
default". "Calote é quando não se paga", acrescentou o ministro, que
acusou o juiz Griesa de estar favorecendo os "abutres" ao impedir que o
dinheiro depositado pelo governo argentino chegue aos credores.
Também
nesta quinta, a agência de risco Fitch rebaixou a nota do país para
calote restrito. Na quarta, ainda antes do fim da reunião de negociação,
a Standard&Poor's já havia rebeixado a nota da Argentina.
Consumidor e aposentados
Em
um evento que durou por volta de uma hora, a presidente anunciou também
um pacote de novas regras de direito dos consumidores e um reajuste das
aposentadorias.
Kirchner
ficou tanto tempo falando das medidas, que chegou a fazer piada com a
possibilidade de não abordar o calote. "Sei que vocês estão esperando
que falem de outro assunto, não vou decepcioná-los", disse, depois de
quase meia hora lendo dados sobre as aposentadorias no país.
Continuidade das negociações
Após
o fracasso da reunião de quarta, o mediador nomeado pela Justiça dos
Estados Unidos, Daniel A. Pollack, divulgou comunicado afirmando que a
Argentina "não alcançou nenhuma das condições, e, como resultado, vai
estar em default (calote)".
Nesta
quinta, no entanto, o juiz dos EUA que decidiu em favor dos fundos
agendou uma nova reunião de negociação para sexta-feira (1º).
O
"default" de agora, entretanto, é diferente da moratória de 2001 porque
dessa vez o país tem o dinheiro para pagar, mas está impedido pela
Justiça. O calote de agora só afeta os US$ 539 milhões que não chegaram a
ser efetivados por estarem retidos no Bank of New York Mellon (Bony),
por determinação da Justiça dos Estados Unidos.
O
juiz americano Thomas Griesa bloqueou o depósito de US$ 539 milhões
feito pela Argentina, vinculando a sua liberação ao pagamento de US$
1,33 bilhão exigidos pelos fundos especulativos.
Divulgação |
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