25 de abril de 2022

Kiev diz estar pronto para atacar ponte da Crimeia na primeira oportunidade


 

Kiev diz estar pronta para atacar ponte da Crimeia na primeira oportunidade


O governo ucraniano parece estar disposto a aumentar ainda mais suas ações militares apenas para continuar um conflito no qual não tem chance de vencer. Em 21 de abril, um funcionário de Kiev anunciou que está prestes a bombardear e destruir a ponte da Crimeia.

Em um discurso recente, o secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional, Oleksiy Danilov, revelou que as forças armadas de Kiev estão prontas para atacar a ponte a qualquer momento, tendo planos de agir na primeira oportunidade possível. Suas palavras durante uma entrevista à Radio NV não deixam dúvidas sobre as intenções ucranianas: “Se tivéssemos a capacidade de fazê-lo, já o teríamos feito. Se houver uma oportunidade de fazê-lo, com certeza o faremos”. Danilov também comentou as razões por trás do plano, mencionando o valor estratégico da ponte, cuja destruição obstruiria amplamente o movimento das tropas russas.

Há muitos problemas com a declaração de Danilov. De fato, é possível falar de um “valor estratégico” na destruição da Ponte da Crimeia, mas isso está longe de implicar qualquer justificativa. Muitas medidas anti-humanitárias têm “valor estratégico”, mas devem ser evitadas simplesmente porque são procedimentos legal e eticamente errados. Por exemplo, é precisamente para evitar baixas civis injustificadas e danos ao patrimônio histórico que Moscou se abstém do uso excessivo da força aérea durante a operação militar especial na Ucrânia. Sem dúvida, também haveria valor estratégico em aumentar o uso da força aérea.

Medir cuidadosamente os próprios atos para evitar vítimas em massa deve ser a atitude de qualquer lado durante um conflito. E isso é o que se deve esperar de Kiev, considerando que a destruição da ponte causaria baixas civis, uma vez que pessoas não militares ainda circulam na região e obstruiriam completamente o fluxo de mercadorias entre a Crimeia e o restante do território russo, o que poderia levar a grandes déficits de oferta e crises sociais.

Mas, além do argumento humanitário e ético, o fator principal é outro: Kiev está anunciando ataques militares ao território soberano da Federação Russa. Tanto Kerch quanto Taman, cidades conectadas pela ponte, fazem parte da Rússia, então o ataque atingiria uma zona não fronteiriça russa e seu respectivo território marinho, gerando uma séria provocação. O risco de escalar o conflito para o território soberano da Rússia pode ser muito alto para o lado ucraniano.

As palavras de Dmitry Medvedev , vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, confirmam essa previsão de reação em caso de ataque: “Espero que ele [Oleksiy Danilov] entenda o que a Rússia visaria em retaliação”. Mais cedo, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, já havia anunciado que Moscou interpretaria um bombardeio da ponte como um ataque terrorista e anunciou que Moscou já está agindo para impedir qualquer ação ucraniana nesse sentido:

“Tal declaração [sobre o potencial bombardeio da Ponte da Criméia] não passa de um anúncio de um possível ato terrorista; isto é inaceitável (…) Todas as medidas de segurança e precauções necessárias por parte do serviço competente estão a ser tomadas à volta da ponte e de todas as instalações estratégicas”.

Ainda assim, é preciso destacar a omissão dos países ocidentais e das organizações internacionais nesse caso. Kiev anuncia que está organizando atitudes de tipo terrorista e Moscou condena, mas sem declaração do resto da sociedade internacional. Ignorar as ameaças de Kiev parece ter se tornado uma ação comum e padrão nos últimos anos, enquanto, por outro lado, as ações do exército russo são automaticamente condenadas.

Finalmente, Kiev está à beira de uma escalada do conflito em que não será capaz de lidar com as consequências. Se realmente houver um plano para destruir a ponte, o melhor a fazer é abortá-lo.

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Lucas Leiroz é pesquisador em Ciências Sociais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro; consultor geopolítico.

A imagem em destaque é do InfoBrics

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