9 de outubro de 2019

Crise no Equador

Protestos se intensificam no Equador antes da grande mobilização contra Lenín Moreno


Polícia expulsa manifestantes do Parlamento, e o Governo decreta o toque de recolher

Centenas de manifestantes, na maioria indígenas,  invadiram nesta terça-feira a sede da Assembleia Nacional do Equador em meio aos protestos que começaram na semana passada com o aumento dos combustíveis decretado pelo Governo de Lenín Moreno. Os manifestantes que se encontravam na primeira linha conseguiram entrar no Parlamento, embora em seguida tenham sido expulsos pelas forças de segurança, que usaram bombas de gás lacrimogêneo. Na tarde desta terça, o Governo decretou toque de recolher a partir de 20h (22h pelo horário de Brasília) nas áreas próximas a edifícios governamentais.

Depois de marcharem em alguns casos centenas de quilômetros, os manifestantes chegaram à capital com o propósito de forçar o presidente a retirar ou renegociar sua bateria de ajustes econômicos, começando pela decisão de eliminar o subsídio estatal ao combustível. Caso contrário, afirmam, estão dispostos a resistir. A tensão nos arredores da Assembleia Nacional era palpável na tarde desta terça, véspera de uma greve geral nacional convocada para esta quarta-feira. "Fora, Moreno!" era o lema mais gritado.

“Queremos tirá-lo”, diz, em referência ao presidente, Bolívar Naula, que viajou com a família de Latacunga, a cerca de 100 quilômetros de Quito. “Não aguentamos mais, estamos com problemas”, diz Luis Lema, de 47 anos. Este camponês da região de Cotopaxi rejeita tanto as medidas de Moreno quanto as de seu antecessor, Rafael Correa. “São da mesma cúpula”, afirma. O taxista Luis Alfredo Galarraga, diretamente afetado pelo aumento do preço do combustível, no entanto, não se queixa. “Era necessário, mas eles não souberam explicar”, considera. Um galão de gasolina custa hoje 2,30 dólares (cerca de 9,42 reais).

O Executivo acusa Correa de ter orquestrado os protestos para enfraquecer Moreno, que foi seu vice e seu candidato à própria sucessão, apenas dois anos e meio atrás, mas hoje se tornou o seu principal rival político. "São eles que estão por trás desta tentativa de golpe de Estado e estão usando e instrumentalizando alguns setores indígenas, aproveitando sua mobilização para saquear e destruir à sua passagem”, chegou a afirmar o atual mandatário na segunda-feira.

"Agora nos chamam de golpistas", respondeu-lhe o ex-presidente, "sendo que quem destroçou a Constituição e a democracia foram sempre eles, quando tivemos dois anos da pior perseguição política". Correa, que se mudou para a Bélgica ao deixar o cargo e é alvo de uma dezena de investigações judiciais, não oculta, em todo caso, seus ataques ao Governo e clama por uma antecipação das eleições.

O setor do transporte foi o que primeiro a se mobilizar contra o pacote de ajustes anunciado por Moreno. Entretanto, o taxista Luis Alfredo Galarraga, afetado diretamente pela alta do preço do combustível, evita se queixar. "Era necessário, mas não souberam explicar", diz sobre o comportamento do Governo. O litro da gasolina subiu de 1,85 para 2,22 dólares por galão de 3,8 litros (ou seja, de 2 para 2,40 reais o litro).

Os transportistas, que haviam suspendido sua paralisação no final da semana passada, somaram-se os protestos indígenas. Diante das novas mobilizações, o Governo optou por se transferir de Quito para Guayaquil, na costa —uma decisão contemplada na Constituição, embora com uma forte carga simbólica. Os manifestantes finalmente chegaram à capital e se dirigiram ao Parlamento, derrubaram as cercas de segurança que rodeavam a Assembleia e ocuparam o vestíbulo do edifício. A atividade parlamentar já tinha sido suspensa. Também foram ouvidas várias detonações na vizinha avenida 6 de Diciembre e perto do parque Arbolito, tradicional local de concentrações indígenas, aonde chegaram veículos blindados antimotins. Ao mesmo tempo, em outro setor da capital, centenas de pessoas se concentraram na avenida dos Shyris para se contrapor à pressão contra o Governo.

Esta quarta-feira será crucial para medir o impacto dos protestos. Os organizadores da greve geral esperam que a jornada mobilize dezenas de milhares de pessoas. Na capital, foram registrados os protestos mais violentos desde o anúncio das novas medidas econômicas. Pelo menos 570 pessoas foram detidas desde quinta-feira passada.

Um jovem que havia ficado ferido num dos protestos em Quito morreu nesta terça em um hospital, informa a agência Efe. Já são quatro mortos desde o início dos protestos. Neste caso, trata-se de Marco Oto, de 26 anos, que supostamente ficou retido junto com outros jovens entre uma porta metálica e agentes motorizados em uma passarela para pedestres, segundo o comunicado da Comissão Ecumênica de Direitos Humanos (Cedhu).

“Seu atendimento foi feito com muita dificuldade devido à negativa dos manifestantes do setor, que a ambulância de avançar", segundo a polícia. Até agora, as autoridades não confirmaram a morte do jovem, mas descartam qualquer ligação de seus agentes com o caso,

O SEGUNDO MORTO NOS PROTESTOS

EFE

Um jovem que havia sido ferido em um dos protestos que acontecem em Quito morreu nesta terça-feira em um hospital, elevando a dois os mortos desde que a onda de protestos começou no país, há seis dias. A vítima, Marco Oto, 26 anos, ficou supostamente retida juntamente com outros jovens entre uma porta de metal e agentes motorizados em uma passarela de pedestres, de acordo com um comunicado da Comissão Ecumênica de Direitos Humanos (Cedhu).

Tentando escapar dessa situação, ele e outra pessoa caíram da passarela de pedestres durante a perseguição policial. A Polícia Nacional confirmou em comunicado que duas pessoas (incluindo a vítima) caíram da passarela, foram levadas em uma ambulância e internadas no hospital Carlos Andrade Marín com várias lesões.

"O transporte foi feito com muita dificuldade devido à negativa dos manifestantes que estavam no setor, que impediam o avanço da ambulância", segundo a polícia. Até o momento, a polícia não confirmou a morte do jovem e descarta qualquer hipótese que relacione seus agentes à morte.

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