Protesto contra Governo da Venezuela termina com mais de 120 feridos, acusa a oposição
Protesto contra a suspensão do referendo revogatório se transforma em imenso ato contra Maduro
ALFREDO MEZA
Caracas
A tensão política na Venezuela continua se agravando. O saldo provisório da intitulada tomada da Venezuela, o protesto convocado pela oposição nesta quarta-feira como resposta à suspensão temporária do referendo revogatório do presidente Nicolás Maduro, é por enquanto de pelo menos 120 manifestantes feridos e 147 presos, em vários Estados do país, de acordo com o líder oposicionista Henrique Capriles, que fez uma contagem, mostrando as fotos dos feridos, alguns supostamente feridos a tiros.
As informações, no entanto, ainda são desencontradas e conflitantes. Por sua vez, o ministro do Interior e Justiça da Venezuela, Néstor Reverol, informou que um oficial da polícia do Estado de Miranda, no centro do país, morreu e outros dois ficaram feridos quando tentavam dissolver uma manifestação de um grupo de oposicionistas, segundo reportou a agência de notícias Efe. Reverol explicou que os funcionários “tentaram dispersar a manifestação e, por parte dos manifestantes, começou um ataque com armas de fogo”.
Novo protesto convocado
Após a marcha, que contou com a participação de milhares de pessoas, o líder da oposição pediu para que os protestos se repitam na quinta-feira da semana que vem, 3 de novembro, mas somente na capital, Caracas, e que se dirijam ao palácio presidencial de Miraflores. Além disso, a aliança de oposição Mesa de Unidade Democrática (MUD) convocou uma greve geral de 12 horas para a próxima sexta-feira.
Henrique Capriles abriu a marcha de quarta-feira, que começou ao meio-dia. A caminhada ocupou a pista leste da estrada Francisco Fajardo, que cruza todo o estreito vale da capital venezuelana. Na passagem de Altamira, bastião por excelência da oposição, as pessoas enchiam os dois sentidos da via expressa e também o elevado que se comunica com a avenida Luis Roche, que termina ao pé do Cerro Ávila, o símbolo da cidade, informou a repórter Maolis Castro.
Um quilômetro em direção ao leste, da passagem La Carlota, era possível observar a multidão que caminhava vinda do Oeste, informou o jornalista Ewald Scharfenberg. Os manifestantes parecem ter superado os obstáculos colocados pelo regime para impedir a chegada de seus adversários até os pontos de partida. O protesto se transformou em um enorme ato de repúdio contra o presidente Nicolás Maduro e um argumento contra as calamidades econômicas da nação sul-americana.
De manhã cedo a caminhada, cuja realização se previa tensa devido aos fortes embates com os líderes do regime na Assembleia Nacional e o ataque ao Parlamento no último domingo, prometia não ser tão grande como a ocorrida em 1 de setembro. O fechamento de dez estações do Metrô de Caracas, de maneira imprevista, algo que só ocorre no final de semana, e as habituais demoras colocadas pelo regime impediram que os manifestantes chegassem a tempo aos cinco pontos marcados pela organização. O que chamou a atenção foi a Guarda Nacional Bolivariana, a polícia militar, que no passado recente dificultou muito o fechamento de vias expressas, ter permitido a realização da caminhada. A cidade ficou completamente paralisada como nos dias de feriado.
O chavismo, enquanto isso, se concentrou nas imediações do Palácio de Miraflores, a sede do Governo, para evitar que se repetisse o confronto fatal de 11 de abril de 2002, quando o então presidente Hugo Chávez foi deposto por 72 horas. No palácio presidencial o presidente Maduro instaurou o Conselho de Defesa da Nação, uma instância de consulta do governo que inclui os principais representantes dos cinco poderes públicos. Foi um discurso breve que marcou o anúncio de uma sessão permanente da instância.
Foi notória a ausência do oposicionista Henry Ramos Allup, presidente da Assembleia Nacional, que anunciou horas antes que não participaria da reunião. As câmeras de televisão mostravam a cadeira vazia enquanto o governante venezuelano criticava sua ausência e lamentava “que continue a cometer desacato”, se referindo à decisão do Supremo que invalidou todas as decisões do Parlamento enquanto este manter em suas tribunas três deputados cuja eleição foi colocada sob protesto. “Ele é obrigado a vir e sabe que eu sou um presidente que dialoga”. Com isso a oposição se mantém firme em sua decisão de não dialogar com o governo enquanto a organização do revogatório continuar suspensa.
Nas principais cidades da Venezuela a oposição também tomou as ruas vestida de branco e levando a bandeira nacional. Nas principais cidades do país, como Barquisimeto e Maracay, também se registrou um grande número de participantes. Em Mérida, a capital do Estado de mesmo nome no oeste do país, ocorreu um confronto entre manifestantes e polícia. Foram lançadas bombas de gás lacrimogêneo.
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