OTAN inicia exercícios militares provocativos na fronteira russa
Por Lucas Leiroz de Almeida
Mais uma vez, a OTAN está operando perigosas e ousadas manobras militares em regiões próximas à fronteira europeia com a Rússia. Desta vez, o país que acolhe os testes é a Estónia, um Estado Báltico que nas últimas décadas se caracterizou por uma forte postura pró-ocidental e anti-russa. O pequeno país europeu está ocupado por um grande contingente de tropas americanas e ficará nessa situação até pelo menos 10 de setembro, quando terminam as operações.
Os testes iniciados em 1º de setembro já estão causando uma pequena crise diplomática entre Rússia e Estados Unidos. A Embaixada Russa em Washington comentou os exercícios com grande antipatia:
“A Federação Russa ofereceu repetidamente aos Estados Unidos e seus aliados para limitar as atividades de treinamento e desviar as áreas de exercício da linha de contato entre a Rússia e a OTAN. Consideramos as ações das Forças Armadas dos Estados Unidos na Estônia provocativas e extremamente perigosas para a estabilidade regional (...) Que sinal os membros da OTAN querem nos enviar? Quem está realmente alimentando as tensões na Europa? E tudo isto a decorrer no contexto de uma situação política agravada naquela região do continente europeu. Questão retórica: como os americanos reagiriam se esse tipo de tiroteio fosse realizado por nossos militares perto da fronteira com os Estados Unidos? ”.
Além da crise diplomática, a tensão militar estourou na região na última terça-feira. Os aviões da OTAN que seriam usados nos exercícios foram interceptados inesperadamente por caças russos durante o vôo sobre a área de fronteira. Além disso, Aleksandr Lukashenko, presidente da Bielo-Rússia, colocou suas tropas em alerta máximo e iniciou seus próprios exercícios militares, entendendo as manobras da OTAN como uma medida provocativa e ameaçadora, não apenas contra a Rússia, mas também contra a Bielo-Rússia.
Os exercícios também começam durante uma série de eventos que aumentaram as tensões na região. Na sexta-feira, um bombardeiro americano B-52 e uma aeronave russa Su-27 realizaram manobras perigosas no espaço aéreo europeu, perseguindo-se. No mesmo dia, tensões semelhantes foram relatadas no Mar Negro ucraniano. Países com menos potencial militar estão se preocupando e se sentindo ameaçados pelas hostilidades, como a Suécia, que lançou um alerta de perigo para suas tropas.
Não é a primeira vez que os países bálticos se tornam palco de ações militares da OTAN especialmente destinadas a provocar a Rússia. Durante anos, Lituânia, Letônia e Estônia aumentaram sua participação em programas da OTAN, junto com a Polônia, países que desde o fim do comunismo vêm aderindo a posições contra a Rússia no cenário internacional. Este exercício em curso na Estónia está na sua oitava edição, tendo já se tornado um programa anual da OTAN. Em 2020, Alemanha, Canadá, Croácia, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Finlândia, França, Holanda, Itália, Letônia, Lituânia, Macedônia, Noruega, Polônia, Reino Unido, República Tcheca e Romênia participarão das operações.
O objetivo, segundo os seus organizadores, é testar as capacidades de defesa da OTAN contra possíveis ataques em solo europeu. No entanto, apesar da narrativa oficial, o caráter provocativo dos testes é verdadeiramente claro, especialmente quando levamos em consideração o atual momento global, em que o mundo enfrenta uma terrível pandemia, da qual os EUA são justamente a maior vítima. No início de 2020, um programa militar da OTAN estava em preparação, prevendo uma série de exercícios audaciosos na Europa, principalmente na região de fronteira com a Rússia. Este programa - apelidado de “Defender Europe 2020” - foi cancelado há poucos meses devido à pandemia. Na época, os testes do Defender Europe foram interpretados como atos de provocação contra a Rússia, pois prevêem uma grande concentração de contingente militar americano na fronteira russa, o que também estamos testemunhando agora na Estônia. Embora esses testes já ocorram há anos, em 2020 a implementação desse programa em meio à pandemia tem uma dimensão muito mais provocativa: Washington está transmitindo à Rússia a mensagem de que está desperta no cenário geopolítico.
Mas essa não é a atitude mais correta. Enquanto os dados da pandemia em solo americano se aproximam de 200.000 mortos e o país enfrenta uma forte crise interna, com violentas manifestações e tensões raciais, Washington prepara planos de guerra e demonstrações de força em outros continentes.
*
A imagem em destaque é da InfoBrics
Este artigo foi publicado originalmente na InfoBrics.
Lucas Leiroz é pesquisador em direito internacional na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário