25 de julho de 2022

A postura anti-Putin de Lapid prejudicará sua posição como líder em casa e no exterior


O primeiro-ministro interino Yair Lapid está em apuros com o presidente russo Vladimir Putin – a ponto de comprometer os laços até então bem equilibrados de Israel com potências mundiais mantidas por seus antecessores. Lapid, menos de um mês como primeiro-ministro interino, está colocando suas próprias perspectivas em risco, poucas semanas antes de seu partido Yesh Atid (Futuro) disputar uma eleição geral, dando um passo longe demais contra Moscou para permitir reparos rápidos.

A amargura ficou séria na semana passada, quando uma fonte da embaixada russa em Tel Aviv vazou a mídia de que o Kremlin estava se ofendendo com algumas das opiniões mais recentes de Lapid e que a convocação do embaixador estava sendo considerada. O próximo passo foi uma ação movida pelo Ministério da Justiça da Rússia contra a Agência Judaica, responsável por promover a imigração judaica para Israel, solicitando sua “dissolução” por infrações não especificadas. Fontes anônimas em Moscou acusaram a organização de drenar os principais talentos russos do país. O caso será julgado em 28 de julho.
Na segunda-feira, 25 de julho, Lapid reagiu com um aviso a Moscou de que fechar os escritórios da quase governamental Agência Judaica no país seria “um evento grave” com “consequências nos laços diplomáticos entre Jerusalém e Moscou”.
Lapid decidiu reunir uma delegação de alta potência para viajar à capital russa e explicar a posição de Israel. O PMO disse que a delegação estaria pronta para partir para Moscou assim que “receber a aprovação russa para as negociações”. No entanto, o Kremlin, demonstrando que não tinha pressa em ouvir o ponto de vista de Israel, até agora se absteve de conceder vistos aos membros delegados. Como a delegação seria chefiada pelo Conselheiro de Segurança Nacional Eyal Hulata, negar o visto seria uma grande afronta ao governo israelense.
Ainda ressoa no Kremlin a voz de Lapid como ministro das Relações Exteriores condenando a Rússia por “crimes de guerra” durante a invasão da Ucrânia. Em contraste, o então primeiro-ministro Naftali Bennett tentou – embora sem sucesso – usar os laços amistosos de Israel em Moscou e Kiev para mediar o conflito e visitou Putin para esse fim.
Ao emitir um "aviso" imprudente ao líder russo de "consequências", Lapid lançou mais um irritante no relacionamento em ebulição. Sua capacidade de cumprir tais advertências é infinitamente inferior à do Kremlin. Putin poderia, em um instante, colocar obstáculos no caminho da ofensiva firme das IDF contra a base iraniana e o acúmulo do Hezbollah na Síria, virando a situação de segurança na fronteira norte de Israel de cabeça para baixo. A comunidade judaica russa também pode ser afetada por sua raiva.
Bem antes de qualquer desacordo chegar a esse estágio, o rival de Lapid, o ex-primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, estaria em um avião para Moscou para conversar cara a cara.
A Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos escolhem prudentemente seu caminho entre as duas potências mundiais, os EUA e a Rússia. Eles tiveram o cuidado de não tombar para um lado ou para o outro, mesmo na Ucrânia, durante a visita do presidente dos EUA, Joe Biden, à região na semana passada.
Ao contrário dos aliados de Israel no Golfo, Lapid abandonou essa opção imparcial. Ele foi visto em Moscou como excessivamente zeloso em sua saudação a Joe Biden, cuja postura anti-Putin do partido democrata data de muito antes do conflito na Ucrânia. É improvável que esta crise desapareça antes de piorar. E Lapid pode descobrir que sua maneira de lidar com a discórdia com Moscou se tornou a principal arma para derrotá-lo à medida que a campanha eleitoral esquenta.

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