2 de abril de 2021

Crise no Brasil

 

Governo Bolsonaro em crise . Pró-americano ou pró-chinês?

Novo ministro das Relações Exteriores pode reverter desastre diplomático de Araújo no Brasil Por Lucas Leiroz de Almeida



Muitas mudanças estão por acontecer no cenário político brasileiro, principalmente na política externa. Na segunda-feira, o governo Bolsonaro anunciou uma grande reforma ministerial, com mudanças em seis ministérios. Entre as principais mudanças estão os Ministérios da Defesa e das Relações Exteriores, que devem significar profundas reformas na práxis internacional brasileira.
No Ministério da Defesa, Luiz Eduardo Ramos foi substituído pelo general Walter Souza Braga Netto, ex-comandante do Exército no Leste brasileiro e intervencionista federal no Rio de Janeiro entre 2018 e 2019, onde se destacou no combate ao narcotráfico em um dos momentos mais difíceis da história brasileira da guerra às drogas. É difícil saber qual será a postura de Netto em relação aos principais temas de seu novo cargo, porém, certamente buscará maiores investimentos para as Forças Armadas (apesar de ser apoiado pelos militares, o governo de Bolsonaro tem um dos menores investimentos em defesa na história do Brasil) e dificilmente seguirá uma política de alinhamento automático com os EUA, considerando o conteúdo antiestratégico e desinteressante para o Brasil dessa orientação adotada pelo governo até então.
No entanto, as principais mudanças dizem respeito ao novo chanceler brasileiro, Carlos Alberto Franco França, diplomata de carreira que antes trabalhava como assessor especial da Presidência da República e agora substitui Ernesto Araújo. O legado do último chanceler é o pior possível: total subserviência a Washington e rivalidade com a China (principal parceiro comercial do Brasil). Carlos França parece estar pronto para enfrentar este desafio e certamente tem o potencial necessário para isso, sendo um diplomata muito conceituado que ocupou cargos de especial importância no exterior. Sua especialidade são as relações bilaterais entre Brasil e Bolívia (onde foi embaixador duas vezes). Além disso, Carlos tem uma postura moderada e neutra em relação às questões políticas e ideológicas, o que é uma postura importante para o Brasil no atual contexto internacional.

Para recuperar as relações fraternas com a China, Carlos França terá um grande trabalho na esfera diplomática, mas isso só será viável se, ao mesmo tempo, ocorrerem mudanças nas posturas gerais do governo federal em relação a Pequim. Assessorado por Araújo, que atuou de acordo com os interesses do governo Trump, o Bolsonaro adotou diversas medidas que dificultaram os investimentos chineses no Brasil, como a proibição do 5G brasileiro pela Huawei e represálias contra Coronavac.


É importante destacar que a China foi a responsável por salvar o Brasil do colapso financeiro total dos últimos dois anos com as exportações de diversos produtos brasileiros, principalmente do agronegócio. Mas, com os diversos delitos anti-China cometidos por Araújo, essa política de cooperação diminuiu significativamente e hoje a parceria bilateral está gravemente ameaçada. Porém, com a mudança na presidência americana, o Brasil perdeu o apoio diplomático de Washington e agora Brasília está sozinha, sem os EUA ou a China - algo que Carlos França tentará mudar agindo para retomar os laços com a China, mas isso só será possível se o governo, entre outras medidas, rever sua decisão sobre o 5G e aceitar a cooperação médica com Pequim (que atualmente é um dos principais pontos da diplomacia chinesa).
Outro ponto a ser destacado é o possível aprimoramento das relações regionais na América do Sul, principalmente a parceria bilateral com a Bolívia. Este país é o centro das atenções do novo chanceler, que é especialista nas relações Brasil-Bolívia, tendo escrito o livro “Integração Elétrica Brasil-Boliviana”. Em um contexto de profundas mudanças no cenário político boliviano, com a volta do MAS, o Brasil tem uma grande chance de mediar o diálogo da Bolívia com o resto do mundo de forma amigável e com foco nos interesses regionais - resta saber, porém, se as autoridades brasileiras responderão positivamente aos projetos do novo ministro para a Bolívia ou se a postura extremista de direita e pró-americana permanecerá firme no governo.
As mudanças ministeriais não ocorreram exatamente por vontade do presidente brasileiro, mas foram resultado de fortes pressões de diversos setores da sociedade brasileira. Bolsonaro aceitou mudar de equipe porque a situação com os ex-ministros era terrível e exigia atitudes urgentes, mas essa não era sua verdadeira aspiração. Em outras palavras, apesar das mudanças, Bolsonaro ainda mantém intacta sua postura ideológica. Isso, no entanto, certamente o levará a um forte isolamento interno, sem qualquer respaldo ministerial, o que pode fragilizar seu governo.
Em sua primeira atitude como novo ministro, Carlos França já demonstrou sua vontade de melhorar a imagem do Brasil no exterior ao nomear como Secretário-Geral do Itamaraty o diplomata Fernando Simas Magalhães, cujas posturas moderadas e carreira imaculada se revelam um profissional extremamente zeloso pelas relações internacionais de seu país. Na verdade, apesar do entusiasmo do novo ministro em mudar radicalmente a política externa do governo Araújo, as mudanças só serão efetivas se o governo abandonar a política pró-americana que vem adotando, mas Bolsonaro parece longe de querer isso.

O Brasil está em um ponto de inflexão. Sem o apoio americano, é hora de retomar velhas alianças e buscar novas parcerias. Bolsonaro tem relações tensas com Biden, mas não muda sua subserviência a Washington e isso atrapalha fortemente o Brasil. Agora, com um chanceler focado em estreitar as relações com a China e os países da América do Sul, o Brasil tem os principais meios para superar a crise e recuperar seu status de privilégio e respeito entre as nações, porém, Bolsonaro permanece inerte em seu fanatismo pró-americano.

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