“Guerra Naval Simbólica” está surgindo entre Israel e o Irã
Por Lucas Leiroz de Almeida
No Oriente Médio, as tensões entre Israel e o Irã estão aumentando, mas ao mesmo tempo mudando seu foco. Recentemente, os dois países se enfrentaram com mais frequência no mar, realizando manobras perigosas e relatando a ocorrência de diversos ataques contra embarcações de ambos os lados, com destaque para os ataques israelenses, que se tornam mais poderosos a cada dia. Aparentemente, o que antes era um conflito focado em bombardeios aéreos e operações de inteligência e espionagem está se tornando uma guerra naval, marcada por constantes demonstrações de força.
Na última terça-feira, 6 de abril, um navio iraniano foi atacado no Mar Vermelho com uma mina israelense em uma operação incomum, totalmente atípica para os padrões do conflito Irã-Israel. O navio atingido na operação foi denominado “Saviz”, uma embarcação comercial civil que não representava nenhum perigo para a segurança marítima da região e não foi poupada de represálias israelenses, cujos níveis de agressividade aumentam rapidamente.
O objetivo dessas operações é implementar uma política que Tel Aviv vem adotando nos últimos tempos no que diz respeito às suas relações com o Irã: mostrar força sempre que possível e alertar o país inimigo que a qualquer momento Israel pode atingi-lo. No mar, onde a violência aumentou recentemente, isso tende a gerar mais violência justamente contra embarcações sem potencial ofensivo, como os navios mercantes, pois o objetivo não é mais neutralizar o país inimigo, mas intimidá-lo de todas as formas.
Durante anos, a posição da Marinha israelense sobre o Irã tem sido a de manter uma interceptação sistemática de todos os navios que transportam material militar em apoio a organizações amigas de Teerã no exterior, como o Hezbollah e outras milícias xiitas. No entanto, a postura mudou um pouco a partir de 2017, quando Israel decidiu adotar a política chamada “guerra entre guerras”, uma tática militar em que operações de baixa intensidade são realizadas com mais frequência e cujo objetivo é alertar constantemente para países inimigos - que, espera-se, também responderão com operações de alta frequência e baixa intensidade, gerando um conflito “brando” e “simbólico”. É por isso que os alvos da Marinha israelense atualmente são múltiplos, já que o plano de Tel Aviv não é mais obter resultados militares efetivos, mas mostrar a Teerã como seus navios não estão seguros em nenhum momento.
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Embora esse tipo de política gere grande desconforto internacional, com notícias constantes de navios destruídos, é possível que, na prática, as tensões se transformem em uma “guerra naval simbólica”, onde as manifestações de força são constantes, mas não chegam ao nível de um conflito real. Este tipo de confronto pode ao mesmo tempo neutralizar as ameaças de guerra entre os dois países e aumentar as tensões, criando uma incerteza constante sobre o futuro próximo.
A postura futura do Irã diante das provocações israelenses dependerá, sobretudo, do resultado das eleições do país, que ocorrerão em junho. Até então, é muito improvável que haja um aumento da violência ou um confronto aberto, já que Teerã estará focado em resolver seus problemas internos e talvez a certeza de que não terá respostas com uma força equivalente é o motivo pelo qual Israel tem se endurecido suas operações recentemente.
No entanto, deve-se notar que a intensidade dos ataques pode ter sérias implicações econômicas. A partir do momento em que Israel circunda o Irã por mar, destruindo todos os seus navios comerciais, Teerã está cada vez mais ameaçado. Ao visar o comércio marítimo iraniano, Israel está prejudicando a estabilidade econômica e social do Irã e de todos os países que negociam com Teerã e isso certamente terá uma resposta equivalente. Portanto, embora muitos especialistas atualmente acreditem no efeito meramente simbólico de um confronto naval, a situação pode piorar e a violência pode aumentar a qualquer momento se a estrutura do comércio marítimo iraniano for realmente prejudicada, criando problemas econômicos internos.
Mas isso certamente mudará. Tendo consolidado o novo governo, nada impedirá Teerã de buscar retaliação para seus navios e isso é algo que já está nas previsões dos estrategistas israelenses, que podem aconselhar seus militares a diminuir a frequência dos ataques. Com isso, é provável que pouco mude nos efeitos práticos, mas até que as eleições ocorram em Teerã, Israel irá cercar progressivamente o Irã por mar.
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