EUA x Rússia no antigo estilo da Guerra Fria
EUA x Rússia no antigo estilo da Guerra Fria
Por Mario Muñoz Lozano Moscou, 20 mar (Prensa Latina) As relações entre a Rússia e os Estados Unidos são hoje as piores das últimas décadas e lembram os tempos da chamada Guerra Fria, quando os dois países eram o inimigo público número um do planeta.
Hoje em dia, políticos, diplomatas e especialistas concordam que a gota d'água foram as recentes declarações do presidente dos Estados Unidos, Joseph Biden, que chamou seu homólogo russo Vladimir Putin de assassino.
Para a porta-voz do Itamaraty, Maria Zajárova, suas palavras colocaram em um beco sem saída os laços dilacerados entre as duas nações e alertaram que a 'demonização' da Rússia por Washington já atingiu seu limite.
Por sua vez, o Vice-Presidente do Conselho da Federação Russa (Senado), Konstantin Kosachev, disse que 'tais declarações são inaceitáveis em quaisquer circunstâncias e inevitavelmente exacerbam nossas relações bilaterais'.
Uma das razões do ataque de Biden é que Washington 'precisa de inimigos temíveis' para justificar sua política agressiva, disse o cientista político cubano Santiago Pérez.
'Desde o início da década passada deixou de ser terrorismo. Eles se tornaram Rússia e China. Com a Rússia há um nível de interdependência menor do que com a China. Eles são menos afetados pelo confronto com Moscou do que com Pequim', escreveu ele em seu Página do Facebook.
Pérez advertiu que não se pode esquecer que Biden é um homem dos tempos da Guerra Fria, que 'vem de uma cultura antissoviética e antirrussa', com 47 anos de trabalho em diferentes governos estadunidenses.
O vice-diretor do Center for International Policy Research disse que não é possível ignorar que nos Estados Unidos a oposição à Rússia é consensual.
Ele citou que opor-se ao presidente russo dessa forma é uma forma de se distanciar do ex-presidente Donald Trump, que chegou a dizer que Putin era um líder mais forte do que Barack Obama.
Somadas às declarações de Biden estão as últimas sanções aprovadas contra Moscou, quando os primeiros 100 dias do novo governo dos Estados Unidos ainda não se passaram.
Washington justificou um conjunto de medidas com o suposto envenenamento da oposição Alexei Navalny e puniu altos funcionários da Segurança e Defesa Russa.
Outros visaram centros de pesquisa e produção da indústria russa, sob o pretexto de impedir o alegado desenvolvimento e uso de armas químicas.
A este respeito, o secretário de imprensa da Presidência, Dmitri Peskov, afirmou que seu país cumpre integralmente as disposições da Convenção de Armas Químicas e acusou os Estados Unidos de possuir armas químicas em seu território.
Em meio à controvérsia bilateral, o chefe da diplomacia dos EUA, Antony Blinken, exigiu que todas as entidades envolvidas no gasoduto Nord Stream 2 entre a Rússia e a Alemanha se retirassem 'imediatamente' ou enfrentariam sanções de Washington.
E como se isso não bastasse, um relatório recente dos serviços de inteligência dos Estados Unidos denunciou a suposta ingerência russa nas eleições de 2020 naquele país, ao que Biden acrescentou que Moscou 'pagará um preço' por isso.
A Rússia rejeitou tais acusações, qualificando-as de infundadas e como justificativas para a imposição das novas sanções.
Na quinta-feira, a presidência russa convocou seu embaixador em Washington, Anatoly Antonov, para consultas, algo que não acontecia há muitos anos, para 'orientar as relações russo-americanas que estão em crise', publicou a legação diplomática em seu site no Facebook.
Com evidente interesse em restaurar os laços bilaterais, o presidente russo convidou seu homólogo americano a manter um diálogo online e diretamente. Ele destacou que poderão falar sobre o estado das relações, estabilidade estratégica, resolução de conflitos regionais e confronto com a Covid-19, entre outros temas. Referindo-se às declarações de Biden sobre ele, Putin chamou a atenção para a diferença entre as opiniões do povo americano e as de seu governo.
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