10 de novembro de 2021

Ibéricos em manobras da OTAN nas fronteiras com a Rússia


Portugal e Espanha enviaram tropas para participar de exercícios provocativos na Lituânia


Por Lucas Leiroz de Almeida

InfoBrics

 

As tensões estão aumentando no Báltico. Os recentes exercícios militares da OTAN na Lituânia mostram que a organização realmente planeja manter uma estratégia de cerco constante, sem interrupções. Tropas dos Estados Unidos, Canadá, Portugal e Espanha participaram na última semana de outubro de operações militares extremamente complexas naquela região, realizando exercícios de guerra aérea com o objetivo de treinar forças ocidentais para uma possível situação de guerra. Curiosamente, os testes foram realizados com discrição, só tendo sido revelados no início de novembro. A intensa participação de militares portugueses e espanhóis revela um preocupante processo de adesão de países europeus sem grande potencial de defesa aos discursos anti-russos da NATO.

No dia 29 de outubro, foram realizados exercícios de guerra da OTAN no Mar Báltico, com a participação apenas de militares e equipamentos militares americanos, canadenses, portugueses e espanhóis. O objetivo principal da operação foi realizar um amplo teste de policiamento aéreo e treinar táticas de guerra “anti-superfície”, modalidade de combate com armas aéreas contra alvos no mar ou na terra. Dentre os diversos pontos dos testes, a mídia foi informada que os principais foram fortalecer técnicas de integração de veículos aéreos e navais e armas em situações de combate, otimizar procedimentos de localização e identificação e qualificar tropas da OTAN para o uso de armas anti-superfície. , que ainda é um tópico menos trabalhado do que o combate naval direto ou a guerra terrestre.
Para além dos habituais equipamentos e veículos americanos e canadianos, a utilização em larga escala de armas portuguesas e espanholas surpreendeu os especialistas. Os caças F-16M da Força Aérea Portuguesa atuaram em conjunto com a fragata portuguesa NRP Corte Real F332 em operações simulando um cenário de guerra aérea e naval. A fragata NRP é uma das armas mais poderosas da Marinha Portuguesa, possuindo extensos sistemas de guerra electrónica e anti-mísseis, equipamento de defesa e vigilância de longo alcance, para além de peças de artilharia pesada, mísseis Harpoon e Sea Sparrow e tubos de torpedo MK46. A tripulação da fragata inclui cerca de 200 pessoas e tem helicópteros Lynx Mk95 entre seus equipamentos.
A fragata espanhola ESPS Almirante Juan de Borbón também participou da operação. Os navios da classe F-100 da ESPS estão entre as armas mais avançadas de todo o arsenal naval espanhol, possuindo equipamentos semelhantes aos da fragata portuguesa. As fragatas USS Arleigh Burke DDG-51 e canadense HMCS Fredericton FFH-37 completaram o cenário dos exercícios.
Embora ocasionalmente ocorram exercícios restritos a alguns países, em geral, os testes da OTAN, em particular os realizados no Báltico, mobilizam tropas de muitos Estados. Esta prova, no entanto, parece ter-se limitado quase totalmente às tropas da Península Ibérica, com um papel de coordenação e liderança operado pelas forças de Washington e Ottawa. O caso é bastante curioso porque revela algo para além da mera intenção da NATO de manter constantemente tropas no Báltico, assinalando um possível interesse por parte de Lisboa e Madrid em manter uma participação activa no cenário militar europeu.
Obviamente, é justo que cada estado queira ampliar sua participação militar em seu espaço regional, mas a situação deve ser analisada levando-se em conta as intenções que estão por trás de tais operações. É sabido que as atitudes da OTAN nos Estados Bálticos e em todo o Leste Europeu se centram em provocar a Rússia, criando um ambiente de tensão e hostilidade, para além de uma política de sítio, nos países geograficamente mais próximos do maior rival geopolítico da os EUA.
Essas medidas são “justificadas” pelo discurso da suposta “ameaça russa”, que é cada vez mais reconhecida como fraude. O crescimento de uma visão crítica do papel da OTAN na Europa é evidente, com uma diminuição do interesse por parte dos maiores Estados europeus em participar em operações que atendem apenas aos planos estratégicos de Washington. Atualmente, a França, maior potência militar do espaço europeu, defende a criação de uma organização militar europeia, independente da OTAN. Em contraste, aparentemente, estados menores com baixo potencial militar estão agindo na direção oposta e buscando expandir seu papel na aliança ocidental.
É um processo natural que com a diminuição da participação das maiores potências europeias na OTAN, alguns Estados mais fracos procurem aumentar o seu papel, em busca de status internacional, ampliação da influência regional e investimentos na indústria militar por parte de Washington. Mas é claro que Portugal e Espanha têm mais a perder do que a ganhar ao se envolverem nestas disputas.

Historicamente, o espaço em que Portugal e Espanha tentam exercer influência é o Norte de África, procurando manter laços de amizade com nações do Mediterrâneo e sem envolvimento em conflitos no outro pólo do continente europeu. As rivalidades com a Rússia nunca fizeram parte da realidade ibérica. Portugal e Espanha são nações historicamente neutras em grandes conflitos globais, tendo até se recusado a participar da Segunda Guerra Mundial. Tentar um papel mais ativo na OTAN seria romper com uma tradição diplomática de neutralidade e amizade que faz desses países grandes lugares pacíficos na arena europeia. Além disso, é evidente que estes países não podem participar militarmente em operações de grande escala, visto que mesmo os seus equipamentos mais avançados - as fragatas vistas na Lituânia - estão muito aquém da atual tecnologia militar das grandes potências. Então, de fato, Lisboa e Madrid pensam que estão agindo estrategicamente, mas estão sendo usados ​​e prejudicados pela OTAN.

Lucas Leiroz é pesquisador em direito internacional na Universidade Federal do Rio de Janeiro. A imagem em destaque é de seaforces.org

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