A desindustrialização brasileira avança
O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) divulgou na edição nº 920 de suas Cartas, baseada nos resultados de um estudo conjunto realizado por um economista da USP e outro da OCDE a respeito da desindustrialização brasileira.
O tema da indústria nacional e da desindustrialização brasileira é abordado frequentemente em diversas colunas do Portal Disparada. Relacionarei abaixo alguns pontos apresentados na Carta do IEDI e, ao final do texto, indicarei alguns textos do site que são interessantes para a compreensão do problema.
Dados da Desindustrialização no Brasil segundo a Carta do IEDI
Percebe-se uma queda da participação da indústria no PIB brasileiro entre 1980 e 2016. Os números apontam que a média do crescimento do produto interno bruto neste período foi de 2,17% ao ano, enquanto os valores brutos da indústria aumentaram na ordem de 0,66% ao ano. O aumento populacional anual foi de 1,47%, em média.
Desconsiderando a indústria chinesa, houve uma retração da participação da indústria de transformação no PIB mundial da ordem de 1% entre os anos de 1980 e 2015. No Brasil, essa regressão foi da ordem de 42% no mesmo intervalo.
Outro dado interessante trazido pelo estudo aponta que a indústria brasileira permaneceu em seu auge durante somente 8 anos (1973-1980), enquanto a dos Estados Unidos resistiu ao longo de 20 anos (1947-1966) no auge da posição alcançada.
Os setores da indústria brasileira que operam com níveis mais altos de intensidade tecnológica (indústria de bens de produção, indústria petroquímica, indústria automobilística etc.) vivenciaram um declínio de 40% na participação no PIB nacional desde 1980.
Alguns setores de alta ou média tecnologia, que costumam obter crescimentos relativos em países que passam por processos de desindustrialização, não cresceram no Brasil. Tampouco diminuíram.
Certos países que se desindustrializam, em termos gerais, perdem em manufaturas de baixa tecnologia mas ganham em setores intensivos em progresso técnico. No caso brasileiro, têxteis, madeira, móveis, calçados, realmente regrediram, mas as indústrias farmacêutica, informática e de eletroeletrônicos simplesmente permanecem estagnadas.
No Brasil, as indústrias da Terceira Revolução Industrial (o mundo já está na Quarta) representam apenas 0,5% do PIB, quase quatro vezes menos do que nos Estados Unidos.
Segundo o estudo de Morceiro (USP) e Guilhoto (OCDE), o que ocorre é uma desindustrialização “anormal e prematura”. Os setores intensivos em tecnologia e em conhecimento iniciaram sua queda antes que o nível de renda per capita “esperado” fosse alcançado.
O que mais chama atenção, certamente, é que a periodização da desindustrialização brasileira coincide com o início e o desenrolar da crise estrutural de crescimento e desenvolvimento pela qual passa o país.
Desde 1980, o país não cresce a taxas suficientes, não gera empregos de qualidade e a expectativa de melhoria no futuro e de realização do brasileiro encontra-se cada vez mais em estado de decomposição.
Textos sobre indústria nacional, desindustrialização e a crise brasileira
Indico fortemente os textos abaixo, todos postados no Portal Disparada por diferentes colunistas, para a compreensão do problema enfrentado pelo país e sua relação com o subdesenvolvimento nacional.
- A presença da desindustrialização no debate eleitoral de 2018:
- Problemas estruturais da indústria nacional:
- A entrega da Embraer, um ramo estratégico da indústria brasileira, ao capital estrangeiro:
- A desindustrialização analisada sob a perspectiva da teoria do subdesenvolvimento e da questão nacional:
- Sobre a dicotomia porto-interior, seus problemas políticos e o papel da industrialização (analisado a partir do quadro eleitoral de 2018):
- Industrialização e a presença ativa do Estado no processo de inovação tecnológica:
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