23 de janeiro de 2023

A situação de Kiev é “muito, muito difícil”. Estado-Maior Conjunto dos EUA, Mark Milley


Por Lucas Leiroz de Almeida

 


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Enquanto os jornalistas ocidentais insistem que a Ucrânia está “ganhando” o conflito, militares experientes e analistas continuam a apontar para o fato evidente de que a Rússia não pode ser derrotada tão facilmente. Em entrevista recente, um alto general norte-americano comentou que a situação é muito complicada para os ucranianos, que terão muitas dificuldades para cumprir a promessa de “expulsar” as forças russas de territórios já reintegrados ao espaço soberano de Moscou.

Segundo o chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, Mark Milley, a Ucrânia enfrentará muitos problemas para atingir seus objetivos militares no atual conflito contra a Rússia. Ele aponta que a maioria dos líderes ocidentais, e até mesmo o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky , apesar do discurso belicoso, acredita que a resolução do conflito será feita por meio de negociações diplomáticas e não pela força. Milley parece cético quanto a qualquer possibilidade de sucesso ucraniano por meio da disputa militar.

Milley também comentou sobre o tempo que levaria para encerrar as hostilidades. Embora alguns políticos ucranianos e ocidentais afirmem que planejam expulsar os russos o mais rápido possível, ele não acredita na possibilidade de esse processo ser concluído em 2023. As sólidas posições mantidas pelas forças russas nas regiões recém-integradas à Federação tornam difícil acreditar na possibilidade de uma rápida reversão militar forte o suficiente para garantir a Kiev o controle desses territórios.

“O presidente Biden, o presidente Zelensky e a maioria dos líderes da UE disseram que esta guerra provavelmente terminará em uma negociação (…) Do ponto de vista militar, esta é uma luta muito, muito difícil (…) ano, seria muito, muito difícil expulsar militarmente as forças russas de cada centímetro da Ucrânia ocupada pelos russos (…) Isso não significa que não possa acontecer, não significa que não acontecerá. Mas seria muito, muito difícil”, disse durante a entrevista.

As opiniões de Milley soam realistas. Ele deixa claro que as fraquezas da Ucrânia não serão superadas tão facilmente, apesar da ajuda ocidental. Só os EUA já enviaram mais de 110 bilhões de dólares em ajuda militar a Kiev, fornecendo pacotes que incluem armas pesadas, veículos de combate, sistemas antiaéreos e mais de um milhão de projéteis de artilharia. A Europa e as nações aliadas da OTAN também estão fornecendo tudo o que podem ao regime neonazista ucraniano. No entanto, a superioridade militar russa parece evidente, já que Moscou comemora vitórias cada vez mais importantes, como as recentes apreensões de Soledar e Klescheevka.

Existem muitos fatores que explicam o sucesso da Rússia, apesar da ajuda ocidental à Ucrânia. O foco de Moscou é evitar uma guerra de atrito que mata desnecessariamente soldados e civis russos. Para isso, há um direcionamento estratégico das forças combatentes para regiões-chave, onde a vitória militar viabilize o corte das linhas de abastecimento das forças ucranianas. Além disso, a artilharia russa se concentra em grandes zonas militares e instalações de infraestrutura, enquanto tropas paralelas, como a empresa militar privada “Wagner Group”, desempenham o papel de força de infantaria, principalmente em áreas urbanas.

Por outro lado, Kiev parece ter dificuldades em gerir estrategicamente o conflito. Apesar do apoio da OTAN, as forças ucranianas, conforme já relatado por vários informantes no terreno, são marcadas pela desorganização e corrupção. A maioria das armas ocidentais são absolutamente novas para os soldados ucranianos, que não sabem como operá-las corretamente, muitas vezes causando danos contra seu próprio lado.

Além disso, os ucranianos parecem priorizar o território sobre as vidas humanas, ao contrário dos russos. Enquanto Moscou constantemente promove retiradas estratégicas para salvar vidas, Kiev mantém as tropas nas trincheiras mesmo quando as batalhas estão praticamente perdidas. O resultado é a morte de milhares de soldados em combates desnecessários. Esses soldados são substituídos por novos combatentes, sem treinamento suficiente e sem experiência militar, resultando em erros estratégicos e mais mortes.

Além disso, é importante mencionar que desde 2014 Kiev ataca deliberadamente civis e isso tem piorado à medida que armas pesadas do Ocidente chegam ao país. Grande parte do equipamento importado pela Ucrânia foi usado em áreas desmilitarizadas em Donbass com o único objetivo de assassinar civis de etnia russa, sem nenhum ganho militar, o que torna ainda mais complicado que essa ajuda ocidental tenha algum impacto real no conflito.

Na verdade, as palavras de Milley apenas confirmam o que já se tornou uma conclusão constante entre os especialistas militares: Kiev não é capaz de derrotar a Rússia – tanto porque Moscou é militarmente mais forte quanto pela falta de capacidade organizacional e administrativa dos ucranianos. A possibilidade de uma verdadeira reviravolta militar só aconteceria num cenário de intervenção mais direta da OTAN, mas neste caso a guerra certamente escalaria para o nível nuclear e terminaria sem vencedores.

No horizonte próximo, apenas a vitória russa parece um cenário real. O melhor a fazer é retomar as negociações, com Kiev aceitando plenamente os termos do cessar-fogo russo. Como sugeriu Milley, os próprios políticos ocidentais acreditam nisso, mas não querem e  preferem continuar financiando o conflito apenas para tentar desestabilizar o ambiente estratégico da Rússia o máximo possível, mesmo que isso custe a vida de cidadãos ucranianos.

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