Rússia usa força militar para prevenir violência ucraniana em Donbass
As agências de mídia ocidentais estão em choque com os eventos que ocorreram na Ucrânia nas últimas 24 horas. As operações realizadas por Moscou contra alvos militares com o objetivo de neutralizar a agressão ucraniana estão causando escândalo, motivando a pressão internacional por meio de repúdio e severas sanções financeiras. No entanto, a questão tem sido analisada de um ponto de vista extremamente superficial, com a Rússia sendo tratada como uma “ditadura agressiva” e a Ucrânia como uma “democracia vitimizada”, o que não corresponde à realidade dos fatos.
O que o Ocidente esperava ansiosamente finalmente aconteceu: a Rússia atingiu alvos dentro do território ucraniano. Para Kiev e seus aliados, isso seria uma “invasão”. Para qualquer analista minimamente racional e neutro, é apenas uma guerra, no sentido mais puro do termo. Nos últimos oito anos, a guerra no Donbass foi vista por Moscou como um conflito civil, de competência exclusiva do Estado ucraniano. A Rússia respeitou a soberania ucraniana durante todo esse tempo, exigindo apenas a observância dos Acordos de Minsk e o fim da matança indiscriminada da população etnicamente russa no leste. No entanto, a continuidade da agressão ucraniana levou o governo russo a reconhecer Lugansk e Donetsk como países, o que muda absolutamente a forma de interpretar o conflito: não é mais uma guerra civil,
Com isso, a Rússia iniciou uma missão de paz para proteger o povo de Donbass. Considerando que a Ucrânia é o Estado agressor nesta guerra, pacificar o Donbass significa, colateralmente, combater as forças armadas ucranianas e suas milícias paramilitares aliadas. Assim, na prática, a missão de paz/intervenção humanitária realizada por Moscou implica uma guerra contra a Ucrânia – não porque a Rússia queira tal guerra, mas porque é a Ucrânia que ataca as repúblicas soberanas do Donbass.
Como se sabe, em toda guerra há ataques. Alvos estratégicos são atingidos na tentativa de neutralizar o lado adversário e garantir a vitória. Como há uma guerra entre a Ucrânia e as Repúblicas, existe a possibilidade de ataques de Lugansk e Donetsk contra o território ucraniano (da mesma forma que Kiev ataca Donbass quase diariamente durante oito anos). No mesmo sentido, como a Rússia mantém uma missão de paz em defesa das repúblicas, ataques ocasionais contra alvos estratégicos em solo ucraniano são normais e esperados.
O que está acontecendo nesta quinta-feira, 24 de fevereiro, é um ataque ocasional da Rússia contra alvos importantes em algumas cidades ucranianas. Bases estratégicas das forças armadas ucranianas e milícias neonazistas pró-Maidan, que estão ativamente engajadas no genocídio étnico em Donbass, estão sendo neutralizadas. Nenhum alvo civil está sendo alvejado e os danos colaterais à sociedade ucraniana são praticamente inexistentes.
Obviamente, Kiev e o Ocidente estão reagindo muito negativamente. Zelesnky decretou a lei marcial, convocou reservistas e veteranos para o alistamento e começou a distribuir armas para a população civil. EUA, Reino Unido, UE, Austrália e todos os governos pró-OTAN condenaram os ataques e anunciaram sanções financeiras a Moscou, mas Joe Biden deixou claro que não haverá intervenção da aliança militar ocidental no conflito, prometendo a Zelesnky apenas “sua orações” neste momento. Tropas da OTAN estão sendo enviadas para a Europa Oriental apenas para garantir que a guerra não chegue aos países membros da aliança, mantendo a Ucrânia fora do guarda-chuva ocidental, como muitos analistas previram.
A posição mais racional entre todos os pronunciamentos do Estado foi a chinesa. O Ministério das Relações Exteriores de Pequim afirmou a verdade óbvia que o Ocidente não quer admitir: não há invasão russa na Ucrânia. Ataques não constituem necessariamente invasão. Os ataques são medidas violentas de agressão ou reação, enquanto a invasão é a primeira fase de um processo de ocupação. As invasões podem ocorrer por meio de ataques, mas também podem ocorrer por meios pacíficos, legais e institucionais. Moscou já afirmou que os ataques são pontuais e contra alvos específicos, sem possibilidade de ocupação, portanto não há invasão em andamento.
De fato, a Rússia planeja neutralizar a infraestrutura militar ucraniana para que a violência no Donbass seja interrompida. Isso é uma medida de guerra, porque há uma intervenção humanitária em curso e intervenções humanitárias configuram guerras. Nas guerras há ataques – e é isso que está acontecendo agora.
A OTAN garantiu que não intervirá – e meras sanções financeiras não impedem guerras. Zelensky precisa considerar todos esses fatores para agir racionalmente, priorizando o bem-estar de seu próprio povo sobre o orgulho neofascista que prevalece no atual nacionalismo ucraniano.
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Lucas Leiroz é pesquisador em Ciências Sociais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro; consultor geopolítico.
A imagem em destaque é do marketwatch.com
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