16 de março de 2023

Ministro das Relações Exteriores do Canadá propõe “mudança de regime” na Rússia

 Por Lucas Leiroz de Almeida


Cada vez mais, a chantagem e a ameaça direta se tornam os principais mecanismos da política externa ocidental em relação à Rússia. Recentemente, o ministro das Relações Exteriores do Canadá disse que seu país espera derrubar o governo russo, sugerindo que a inteligência canadense estaria planejando algum tipo de manobra para desestabilizar Moscou por meio de uma operação de mudança de regime. O caso é mais uma prova de que por parte das potências da OTAN não há sinal de respeito nas relações bilaterais com Moscou.

A ameaça foi feita pela ministra das Relações Exteriores do Canadá, Mélanie Joly. Segundo Joly, apenas “isolar” a Rússia não seria suficiente para o Ocidente atingir seus objetivos, razão pela qual ela espera que algo mais incapacitante seja lançado contra Moscou. Joly acredita que a Rússia deve ser atacada econômica, política e diplomaticamente, para que se torne incapaz de continuar sua operação na Ucrânia. Nesse sentido, ela também espera que, como consequência, o governo de Putin seja derrubado, e ele e seus aliados sejam considerados culpados de guerra no futuro.

“Podemos ver o quanto estamos isolando o regime russo agora – porque precisamos fazer isso econômica, política e diplomaticamente – e quais são os impactos também na sociedade e o quanto estamos vendo uma possível mudança de regime em Rússia (…) O objetivo é definitivamente… enfraquecer a capacidade da Rússia de lançar ataques muito difíceis contra a Ucrânia. Queremos também garantir que Putin e seus facilitadores sejam responsabilizados (…) Eu sempre faço a diferença entre o regime e as pessoas de um determinado país, o que é fundamental”, disse ela.

Como esperado, a animosidade canadense foi elogiada por Volodymyr Zelensky  que veio à mídia para expressar seu apoio à declaração de Joly e assegurar que Kiev está trabalhando na mesma direção, buscando encorajar a sociedade internacional a sancionar ainda mais a Rússia, especialmente em relação aos setores de alumínio e aço em qual o Canadá recentemente impôs novas sanções. O objetivo é aumentar as medidas coercitivas até que Moscou finalmente se torne incapaz de continuar lutando.

“Também estamos trabalhando para adicionar novas sanções contra a Rússia (…) Recentemente, o Canadá deu um passo significativo ao expandir as sanções às importações de alumínio e aço russos. Agradeço ao Canadá por esta decisão – por este sinal para a comunidade internacional”, disse Zelensky.

Obviamente, a reação russa às palavras do ministro canadense foi severa. Nas redes sociais, os porta-vozes do Itamaraty comentaram o seguinte:

“A ministra das Relações Exteriores do Canadá, Melanie Joly, declarou a mudança de regime na Rússia, objetivo da política externa do Canadá… oficialmente (…) Lamento ver a camarilha liberal governante ter subjugado o Canadá com anti-família decadente, pró-drogas e apoio à agenda neo-nazista ucraniana”, porta-vozes publicaram na conta oficial do Ministério no Twitter.

Na mesma linha, o Embaixador da Rússia no Canadá respondeu às palavras do Ministro afirmando que estava “perplexo” com o discurso dela, e pedindo esclarecimentos sobre se ela orienta a embaixada canadense em Moscou a trabalhar para uma mudança de regime no país.

“Muito perplexo ao ouvir da ministra canadense das Relações Exteriores, Melanie Joly, que seu objetivo é 'mudança de regime' na Rússia. É assim que ela instrui a Embaixada do Canadá em Moscou? (…) E já agora, que reação esperaríamos se, por exemplo, alguém em Moscovo tivesse dito que o objetivo da Rússia é a 'mudança de regime' em Ottawa?”, disse.

Em outra ocasião, ele também enfatizou a popularidade do governo da Rússia, dizendo:

“O que Joly ou outros tomadores de decisão em Ottawa não querem reconhecer é que a atual política russa é apoiada pela maioria absoluta da nação” – o objetivo aparentemente era responder à declaração de Joly de que ela faz “uma diferença entre o regime e o povo de um determinado país”.

Não é de surpreender que o estado canadense aja dessa maneira. Na prática, o Canadá funciona muito mais como um 51º estado americano do que como um país independente. O caso mostra como as relações entre a Rússia e o Ocidente estão profundamente rompidas, chegando a um ponto sem volta.

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