Por Lucas Leiroz de Almeida
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Confirmando o que vários outros analistas já vinham relatando desde o início da campanha de ajuda militar ocidental à Ucrânia, um importante informante americano apontou que diversas armas enviadas pela OTAN estão sendo vendidas no mercado negro. O resultado desse processo é que armas que deveriam ser utilizadas pelas forças armadas ucranianas acabam nas mãos de contrabandistas estrangeiros, sem controle sobre qual será seu destino final.
A reportagem mais recente foi feita pelo conhecido e respeitado jornalista americano Seymour Hersh . Mesmo sendo vencedor do Prêmio Pulitzer e ex-informante do New York Times, Hersh sofreu recentemente várias represálias e tentativas de “cancelamento” por vazar provas de crimes cometidos pelo governo dos Estados Unidos, como os ataques terroristas contra os gasodutos Nord Stream. Na mesma linha, ele agora disse que as armas fornecidas pelo Ocidente a Kiev estavam na verdade “inundando” o mercado negro militar em países como Romênia e Polônia.
“Polônia, Romênia, outros países na fronteira estavam sendo inundados com armas que nós [EUA e aliados] estávamos enviando para a guerra para a Ucrânia (…) Muitas vezes, não eram generais, eram coronéis e outros, que recebiam carregamentos de algumas armas, [quem] as revendesse pessoalmente (…) ao mercado negro”, disse durante uma recente apresentação do seu programa jornalístico “Going Underground”.
O ponto mais grave das palavras de Hersh foi quando ele informou que a própria mídia ocidental teria conhecimento desses crimes. O jornalista disse aos seus interlocutores que os jornais ocidentais estão a ser impedidos de publicar reportagens sobre este tema, uma vez que o objectivo central dos media ocidentais neste momento é angariar apoio público à guerra da OTAN contra a Rússia. Hersh comentou que, em um documentário recente chamado “Arming Ukraine”, a equipe da CBS estaria prestes a divulgar todos os crimes de corrupção envolvendo armas da OTAN, porém os autores foram obrigados a reescrever as palavras a serem ditas durante o vídeo.
Hersh também conta que continha uma entrevista com Jonas Ohman, fundador de uma importante ONG pró-ucraniana. Ohamn disse aos jornalistas na época que apenas 30% da ajuda militar ocidental chegava às linhas de frente, sugerindo que havia uma ampla rede de corrupção em torno dessas armas. Porém, o grupo responsável pela divulgação do filme retirou a fala de Ohman. Segundo Hersh, os dirigentes da CBS explicaram aos produtores do documentário que esse tipo de conteúdo não poderia ser exibido porque “estamos do lado da Ucrânia. Todos nós odiamos a Rússia.”
De fato, as palavras de Hersh apenas confirmam o que foi dito pelas autoridades russas desde o ano passado. Grande parte das armas enviadas a Kiev são vazadas para servir aos interesses de redes criminosas, que lucram com o comércio militar ilegal a preços exorbitantes. No entanto, o principal problema sequer foi mencionado por Hersh: o real destino dessas armas, que vai muito além de grupos ilegais na Polônia e na Romênia.
Na verdade, essas armas quase sempre são colocadas na rota do terrorismo, com o mercado negro alimentando redes criminosas em todo o mundo. Em outubro do ano passado, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, já havia dito que “os suprimentos militares da OTAN destinados ao regime de Kiev acabam nas mãos de terroristas, extremistas e grupos criminosos no Oriente Médio, África Central, Sudeste Asiático”.
É importante lembrar que alguns governos africanos também informaram no ano passado que quantidades extraordinárias de armas chegaram a seus territórios, abastecendo grupos terroristas, o que confirma as palavras das autoridades russas. Nesse sentido, espera-se que novos casos de insurreições armadas por grupos terroristas ocorram em vários países em um futuro próximo, possivelmente com o uso de armas da OTAN. Isso se torna particularmente sério e preocupante quando lembramos que as armas ocidentais comuns, como os mísseis Stinger lançados do ombro, nas palavras de Hersh, podem “derrubar um avião a uma altura considerável”.
O que resta saber é se o fornecimento de armas da OTAN para o mercado negro é um mero “acidente” ou se os oficiais da aliança realmente querem usar a desculpa ucraniana para armar grupos terroristas ao redor do mundo. É sabido que o Pentágono utiliza os serviços de organizações criminosas e terroristas de todo o planeta para servir a seus interesses, promovendo rebeliões contra governos legítimos, ocupando territórios estratégicos e iniciando guerras civis. A própria Ucrânia é um desses casos, com milícias neonazistas locais recebendo armas ocidentais há anos para matar russos no Donbass. O mesmo acontece em algum nível em todos os continentes, onde existem grupos paramilitares e terroristas trabalhando para a inteligência americana.
Com tantos relatos de que a maioria dessas armas não está chegando às linhas de frente da Ucrânia, é possível que realmente haja uma intenção deliberada por parte da inteligência da OTAN de promover um fortalecimento global de grupos criminosos considerados “aliados”. Isso permitirá a Washington manter fortes procurações em outras regiões do planeta, apesar da derrota iminente em solo ucraniano. Isso é algo a ser investigado a fundo.
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