“Confiança” dos EUA no sistema eleitoral brasileiro levanta suspeitas
As tensões eleitorais estão crescendo no Brasil. De um lado, Jair Bolsonaro , que iniciou seu governo com uma postura de alinhamento automático com os EUA, agora aparece como o candidato com agenda de política externa mais “neutra”, enquanto, de outro, Lula, que é conhecido por ter mantido uma estratégia de integração regional e cooperação intra-BRICS durante seus mandatos, agora parece ser a opção desejada pelas elites globalistas e pró-ocidentais. Recentemente, a subsecretária de Assuntos Políticos dos EUA, Victoria Nuland,visitou o Brasil e realizou conferências nas quais aconselhou os brasileiros a confiarem em seu próprio sistema eleitoral. Anteriormente, agentes da CIA já haviam feito essa mesma declaração sobre a confiança eleitoral, que é respaldada e replicada pela mídia brasileira. Considerando que a imprensa hegemônica brasileira apóia Lula, os partidários de Bolsonaro interpretam esse clamor por “confiança” como um sinal de que haverá fraude eleitoral.
No dia 25 de abril, Victoria Nuland chegou ao Brasil para participar de um evento de negócios chamado “US-Brazil High Level Dialogue 2022: Economic Growth & Prosperity”, onde a subsecretária se comprometeu a conversar com “jovens empreendedores brasileiros”.
Seu objetivo era supostamente alinhar projetos de cooperação com base nas principais demandas globais contemporâneas, como energia, sustentabilidade, COVID-19, entre outras. O que surpreendeu muitos especialistas que acompanharam o evento foi o fato de Nuland ter publicado fotos em suas redes sociais com alguns dos supostos “jovens empreendedores brasileiros” e nenhum deles ser reconhecido como profissional de destaque na área de negócios. Especula-se que a visita tenha como objetivo apenas estabelecer diálogos concretos com alguns representantes específicos da elite política brasileira para pressioná-los a servir aos interesses americanos, sendo o evento apenas um “disfarce”.
Por exemplo, recentemente, o ministro de Minas e Energia do Brasil, Bento Costa , já havia afirmado ter recebido “orientações” da Casa Branca, para o Brasil maximizar sua produção de petróleo, com foco nas exportações para países europeus. O objetivo é tornar o país sul-americano uma alternativa ao petróleo russo, tornando o Brasil um importante parceiro estratégico para o projeto de ordem mundial almejado por Washington. Esse parece ter sido, enfim, um dos pontos de discussão entre Nuland e os brasileiros, com foco claro no aumento da pressão para que Brasília retomasse uma política de alinhamento automático.
No entanto, o que mais chamou a atenção foi uma declaração de Nuland dizendo que tem “confiança” no sistema eleitoral brasileiro e afirmando que os brasileiros deveriam fazer o mesmo . A subsecretária afirmou que os EUA confiam plenamente no sistema de votação eletrônica utilizado no Brasil e que as autoridades brasileiras não devem suspeitar disso. Obviamente, sua mensagem foi dirigida indiretamente ao presidente brasileiro Jair Bolsonaro e seus apoiadores, que repetidamente manifestaram suas suspeitas sobre a existência de fraude na contagem eletrônica de votos e tentaram, sem sucesso, recuperar o sistema de votação impressa.
Também é curioso notar que o discurso de Nuland não foi um evento isolado. Diretor da CIA William Burns disse a altos funcionários brasileiros no final de 2021 que o presidente Jair Bolsonaro deveria parar de duvidar do sistema eleitoral do país antes das eleições de outubro de 2022, expressando total apoio dos EUA à permanência do procedimento de contagem eletrônica de votos. O assunto fica ainda mais polêmico quando mencionamos o fato de que a contagem eletrônica no Brasil é operada exclusivamente por uma empresa americana, a Oracle Corporation, que tem vínculos com a CIA segundo diversos relatos. Desde 1996, quando o voto eletrônico foi adotado pelo governo brasileiro, a Justiça Eleitoral garantiu que a Oracle seja a prestadora de serviços oficial para Brasília, o que explica, pelo menos em parte, por que as autoridades americanas parecem tão confiantes nesse sistema.
Paralelamente a tudo isso, o candidato da oposição, o ex-presidente Lula, parece ganhar cada vez mais notoriedade entre americanos e europeus. Depois de prometer à UE uma participação na “governança” da Amazônia e condenar a Operação Militar Especial Russa na Ucrânia, Lula se tornou o candidato preferido das elites globalistas para a disputa eleitoral deste ano, sendo capa da revista Time no mês passado. A mídia hegemônica brasileira, que se entusiasmou com o apoio americano ao sistema eleitoral e vem fazendo forte campanha pelo voto eletrônico, também apoia Lula, que agora parece reunir todos os atributos da agenda globalista, estando alinhado com o capitalismo verde e as sanções contra a Rússia.
Para os apoiadores de Bolsonaro, o fato de Nuland ter visitado o Brasil, se recusado a se encontrar com o presidente e feito apontamentos sobre a necessidade de confiar nas instituições eleitorais locais é um sinal claro de que haverá fraude, controlada pela elite política americana – que se tornou oponente de Bolsonaro desde a posse de Biden – para Lula ser eleito. Dizer isso pode parecer exagerado, mas considerando as ações anteriores de Nuland, sendo um dos responsáveis pela mediação do golpe em Kiev, tendo entregue 5 bilhões de dólares aos batalhões neonazistas ucranianos, não parece tão distante da realidade.
Desde 2020, tudo se inverteu no cenário político brasileiro: Lula se tornou um aliado das elites internacionais contra os parceiros do BRICS e Bolsonaro foi obrigado a adotar uma política externa mais neutra devido à recusa de Biden em cooperar com ele. Independentemente de qual lado vença, as tensões continuarão: se Lula vencer, Bolsonaro alegará fraude; se Bolsonaro vencer, as elites globais que apoiam Lula poderão tentar algum tipo de operação lawfare, considerando que o Supremo e o Tribunal Eleitoral também apoiam Lula. A instabilidade é a única certeza para o futuro.
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